A princesa da neve.

O jovem Sarutobi havia acabo de voltar da Loja de Armas. Comprou lá 30 makibishis. Havia voltado pra casa quase correndo, iria jogar shoujo com o seu avô. Teria uma conversa realmente incrível e depois poderia falar sobre o futuro com o seu primo. Não estava ansioso, mas, sentia que deveria ir com pressa. Adentrou rapidamente e antes mesmo de poder ir até o seu avô ouviu a porta bater.

- O Sarutobi Katsuo sou eu. - disse pausadamente, olhando fixamente nos olhos do homem. - Não demorarei. - disse quase em tom de promessa.

* * *

Havia lido o bilhete, avisou ao seu avô e ao seu primo que teria de cancelar os programas. Pôs com cuidado todo o equipamento na sua bolsa de armas. Pegou o dinheiro que tinha e colocou algumas mudas de roupa e rações secas dentro da mochila. Se ele precisaria viajar, provavelmente teria de ficar alguns dias na estrada. Levou quinze minutos até chegar à sala do Hokage.

Ao entrar levou dois dedos a testa em uma semi-continência. Aquilo havia se tornado um hábito. Seus olhos procuraram do Hokage, sem vacilar. E então deu um sorriso de "estou pronto, pode começar a explicação". Ouvia atentamente, sem mesmo fazer menção em interromper. Quando percebeu a pausa cerrou os lábios, era algo como "eu entendi, não precisa demorar tanto assim".

Katsuo já havia escutado falar do país. Inclusive havia lido algumas pequenas coisas a respeito daquele lugar. Na menção da palavra "vocês" girou o corpo num ângulo meio curto e cessou antes de completar um giro completo. Só depois percebeu que a intuição havia soado verdadeiro, alguém havia entrado lá atrás. E não era alguém comum. Teve um devaneio quase erótico (ou mais que erótico) típico de um garoto aos quatorze anos. Suas bochechas quase coraram, quase. O jovem recuperou a calma e deu um sorriso de "podemos ser amigos" enquanto fitava aqueles olhos. E céus, como pareciam com um lago.

O garoto escutou atentamente tudo que o Ken lhe dissera. E ensaiava um "sim" com a cabeça sempre que necessário. Ao fim do discurso, manifestou-se.

- Daremos o nosso melhor. - olhou para a moça loira, esperando uma aprovação um "sim, faremos o nosso melhor".

Quando a moça se apresentou, estendeu a mão direita e desenhou um sorriso amigo no rosto.

- Pode me chamar de Katsu. Sou Sarutobi Katsuo. Prazer em conhecê-la, Uzumaki-San.

Ergueu a sobrancelha da primeira vez que a viu fazer aquilo. E tinha quase a certeza que ergueria a sobrancelha sempre que olhasse pra ela, quase que um gesto automático. Escutou calado o que ela falava, poderia parecer que não, mas, o Sarutobi não estava muito a fim de conversa. Não naquela noite, quase que havia se irritado com o fato de ter seus planos interrompidos. Mas, tudo por algo maior.

Quando ela mencionou a princesa, queria ter pedido pressa. Mas, ficou calado ao fitar os olhos azuis. Respirou antes de perguntar o porquê dela não carregar nada, escutou a resposta (ou o silêncio) e permaneceu a acompanhá-la. Katsu usava uma camisa com o símbolo do clã Sarutobi bordado no ombro direito e com mangas longas, embaixo de cada manga carregava uma senbon presa à atadura. Elas eram a "primeira linha de defesa", como ele costumava referir-se quando falava com o seu avô.

Os passos continuavam constante, mas, o negro do céu era substituído por cinza.

- Chuva. - sussurrou pra si.

Quando havia terminado de levar a mão a cintura depois do comentário, ouviu a sugestão. Era sensata, mas...

- O Hokage nos chamou com urgência. Talvez nós devamos continuar seguindo mesmo na chuva. - sugeriu, olhando nos olhos da moça.

Ouviu as considerações da moça e então seguiu com ela até o abrigo. Oferecendo-se para acender a lenha usando o Hoken. Colocou a mochila próximo a si, e a usou como travesseiro. Fitou então a tempestade que se aproximava.

Havia escutado com admiração o que a Uzumaki havia falado. Mesmo condenando a prepotência e o jeito "eu sei de tudo e você apenas é uma criança" que ela tinha (ou aparentava ter). Pensou consigo que ele também tinha os próprios dons. Ficava feliz por poder "ler" as pessoas, e com toda a certeza, aprimoraria essa habilidade com o passar dos dias, meses e anos.

Havia acordado mais cedo que a Uzumaki, comido parte de sua reação e organizado suas coisas. O garoto sempre acordava cedo, havia feito daquilo um hábito desde que se entendia por... Ninja. Esperava a loira do lado de fora, e quando ela apareceu a cumprimentou com um bom dia, também perguntou se ela havia dormido bem. Fez também uma piada sobre a falta que uma boa cama fazia.

A moça comentou sobre uma carona. Seria útil. Sempre era. Riu do segundo comentário dela, e por incrível que pareça a risada era infantil.

Sarutobi havia passado quase todo o caminho tentando conversar e encurtar os laços com a Yukari. Havia feito na maioria das vezes perguntas técnicas, questionado sobre o modo como ela lutava e quais eram os seus elementos. Além de fazer o tempo passar mais depressa, aquelas informações também seriam vitais, Katsuo saberia como se posicionar caso fossem atacados. Queria sentir-se útil, mesmo sabendo que a loira era possivelmente uma possível exímia combatente. Perguntas como qual era o seu sabor de ramen preferido também surgiam entre a tentativa de conversa.

Quando se aproximavam da vila forçou os olhos e começou uma tentativa de analisar o novo território. Por sorte não haviam aparecido bandidos na estrada, ou qualquer outra dificuldade que os atrasasse e afetasse de um modo geral nas tentativas de se obter sucesso na missão. Quando fitou a Yukari para comentar sobre o que via, percebeu que ela estava imersa em seus pensamentos e então esperou até que ela "voltasse".

Ouviu a indagação dela, e assentiu com a cabeça.

- Parece não haver muitos que a defendam aqui. Eles não poderiam defendê-la com rastelos e enxadas, embora não devamos subestimar a vontade do fogo. Mas, algo não se encaixa. - disse serenamente, seu tom de voz parecia com o de alguém que havia acabado de acordar, meio arrastado.

Ao entrar, observou novamente com um cuidado minucioso a paisagem que via. Tentando memorizar rostos, lugares e lendo as possíveis placas de identificação. Também analisaria as pessoas, tentando encontrar possíveis portadores de armas, se desse sorte, encontrar até mesmo ninjas. Não queria se descuidar por um instante sequer.

- Tem razão. Não é tão pequena quanto achei que fosse. - o que havia lido sobre a vila era defasado, os dados sobre ela pareciam não fazer muito sentido na cabeça do jovem genin.

Quando sentiu a mão sobre sobre o seu ombro, prestou atenção no modo como fora tocado. Tentando ter alguma intuição maior sobre a mulher que o acompanhara até ali, e que talvez o acompanhasse outras e outras vezes em mais diferentes missões. Ouviu o que ela diz e respondeu em tom monocórdio, sugerindo que fosse melhor que se separassem, poderiam falar com mais pessoas em um intervalo menor de tempo.

Se ela aceitasse, procuraria mercadores mais humildes. Que não tivesse muita vaidade e que estivessem mais dispostos a ajudarem. Só em última instância iria até os luxuosos e vaidosos, aquilo atrairia uma atenção desnecessária. E se fosse necessário, ofereceria uma guarda ninja em troca da carona. Embora ele tentasse convencer os mercadores através da lábia.

Se ela não aceitasse, iria sugerir que procurassem os mais humildes. E só tomaria a frente da conversa se houvesse brecha pra tal situação. Acompanharia a moça e faria o que fosse necessário, tentando antecipar-se ao pedido da líder, demonstrando eficiência.

Havia passado a hora em que a Yukari havia passado fora questionando o homem sobre o que ele tinha visto de terrível e interessante nas estradas. Como o mesmo havia dito antes, viajou muito. Ficava com um pé atrás em relação com as críticas aos ninjas. Ele não se sentia afetado, não era assim, sempre fora fiel a vila e aos seus ideias. Tinha a absoluta certeza que permaneceria fiel até mesmo depois da sua morte. Confiava no Hokage com toda a sua alma, sabia que ele estava dando o melhor pela vila. Em determinado ponto da conversa falou sobre isso, mostrando que o próprio peito incendiava com a vontade do fogo.

Na hora seguinte, quando a Uzumaki apareceu, o Katsuo ficou irritado. Não tão irritado quanto qualquer outro, apenas, irritado. O único sinal de alteração na sua face era uma pequena ruga que havia se formado na testa,e que se escondia por trás de seus negros cabelos. A olhou, com aqueles olhos que pareciam mais velho que o próprio ninja, e então suspirou. Um suspiro quase imperceptível.

- Yukari é uma boa companheira, ninguém pode negar.- sorriu enquanto cantarolava. Aquilo não parecia muito real, mas, era o melhor que pode fazer.

Quando não sentiu o cheiro do álcool na Yukari percebeu que ela havia falado sério sobre coletar informações. Se sentia diminuído e infantil por não ter percebido isso antes. Percebeu que a Yukari e o velho de turbante eram velhos companheiros, descansaria na carroça. Ele precisava de descanso, e sabia que aqueles dois precisavam conversar. Apenas sabia.

A conversa o havia deixado inquieto, realmente inquieto. Havia um lado dentro de ti que mandava confiar na Yukari, em contra-partida havia também o lado que dizia "saia fora, ela não é confiável". Sempre que ficava divido entre esse dilema fechava os olhos e então contava até dez, aquilo o ajudaria a limpar a mente. Ele tinha certeza.

Quando a Yukari começou a falar sobre o aço especial uma ruga dançou em sua testa. E ele a encarou como sempre fazia. Tentando encontrar um traço de verdade ou mentira naqueles olhos azuis. Sentia os ombros pesados, passava a não gostar de estar naquela situação em ritmo exponencial.

Seus olhos quase se arregalaram quando sentiu o cabelo afagado. E quando ouvia a pergunta, sorriu em desafio. Não precisava verbalizar a sua escolha. Precisava?

***

Quando  a Yukari saiu e o velho - que o Katsuo ainda não sabia o nome - indagou sobre o passado da moça, o genin ficou inquieto. Remexeu as luvas que calçavam suas mãos, mas, manteve o olhar firme nos olhos do homem. Sem saber se acreditava ou simplesmente negaria mentalmente tudo que ele faria. Não tardou e a Yukari voltou, quando fez a pergunta o Sarutobi apenas a olhou por dois segundos, depois levou os seus olhos para frente da estrada. Estaria preparado para o que fosse. Não queria - ou se negava a querer - saber informações que prejudicassem sua relação com sua parceira de missão, aquilo poderia afetar o rumo da jornada. Guardou todas as perguntas que havia elaborado em sua mente pra outro momento.

Passou o dia tentando ignorar o clima ruim daquela carroça. Era sensível, e muita calma ocultava isso em parte. Katsuo tinha uma paciência enorme, e aquilo fora útil durante todo o percurso. Tentou remediar o confronto quando necessário, estar falhando o frustrava em parte.

Quando chegou a noite, logo entrou em sono. E quando sentiu as mãos em seus pés, o pedaço de metal em cada uma das suas mangas tornou-se mais pesado. Levantou-se e postou-se do lado da Yukari, estava meio nervoso. Aquilo ainda o deixava nervoso embora ele tentasse melhorar. Era um rapaz que acreditava no misticismo. Acreditou que todo aquele mal estar era um vislumbre do combate que provavelmente se seguiria ali.

Enquanto a Yukari conversa com os prováveis inimigos, analisava o terreno e media mentalmente a distância entre eles. O velho acordado seria fundamental, almadiçoou-se pelo fato de ter ficado tão longe. Tentava focar na análise do local e no diálogo, ficou calado para poder melhorar com os dois objetivos atual. Pensou que a outra princesa poderia ser uma sósia, e depois perguntou-se se o Ken não havia omitido parte da missão.

Movimentou os braços de maneira sutil pra folgar cada uma das senbons. Tanto a que estava na manga direita, quanto a que estava na esquerda. Quando a Uzumaki deu a deixa, antes mesmo dela completar a frase partiu.

-

AÇÃO:
O objetivo é usar um shushin pra ficar a cinco metros do que está atrás e a direita do homem encapuzado. O sumiço vai gerar alguma confusão, o aparecimento rápido também. Após isso usará o Konoha Shoufuu. Tentando lançar o inimigo para o alto e lançar as duas senbons em direção ao peito dele.

CASO CONSIGA:
Sacará duas kunais e tentará lançar nele antes da queda. Estando no alto ele não poderá evitar. Preparará uma kawarimi depois de lançar os projéteis:

CASO NÃO CONSIGA:
Recua usando um shushin e deixando o papel bomba que será ativado quando o Katsuo sair da zona de alcance da chama.

Sentia a adrenalina percorrer todo o corpo. Analisava com calma a situação que se seguia. Conferiu rapidamente o ferimento no ombro e voltou o seu olhar por um segundo em direção à Yukari. Achou que ela não teria grandes problemas. Quando notou que o homem que fora o primeiro atacado da batalha estava quase morto, ficou feliz e triste. Tirar uma vida não é de todo motivo de orgulho, havia aprendido isso.

Preparou um kawarimi e tirou a fuuma de shuriken da sua bolsa. Aproveitou-se do fato de ainda não ter sido visto novamente para jogar em direção ao homem ferido. Usou um sushin para aparecer em suas costas, como o seu tronco havia ficado ferido, não conseguiria se mover para interceptar o ataque. Depois olharia para o outro adversário. O que ele faz agora?

É um louco! foi o primeiro pensamento do Katsu (que recebeu esse apelido por gostar de usar papeis explosivos). Saltou para trás no instante em que pegava um punhado de makibishis e lançava no chão. Correndo em fuga. O seu objeto era alcançar as pedras. Enquanto corria deixava makibishis no chão. Esperava que o inimigo não o tentasse parar com uma kunai ou shuriken.

Quando o homem morreu, Katsuo caiu sobre os próprios joelhos. Levou suas mãos até eles e encarou a palma das suas mãos. Os seus olhos estavam extremamente abertos, e a sua boca não estava fechada. A imagem do homem explodindo se repetia em sua mente num looping quase infinito. Só conseguiu sair do transe quando vira o outro homem ser morto. Cerrou os dentes com força ao perceber que fora o próprio parceiro a matar o homem.

Como pode alguém ser tão cruel?


Permaneceu por um tempo parado. Talvez dez minutos. E quando levantou-se sentiu que já não era mais o mesmo que sentou. O seu avô faria uma tatuagem na pele, Katsuo fez uma na alma. Sabia que precisava de cuidado com o braço, mas, recolheu as suas armas no campo de batalha antes de sentar-se ao lado da Yukari.