Vilarejo
Foi uma surpresa, chocante e inesperada, quando Ikusa, pai de Harumi abriu a porta e viu a filha. A primeira reação de um pai seria de completa felicidade, se ele não fosse observador. Ikusa logo de primeira viu em que situação sua filha primogênita estava, e, com um gesto totalmente inesperado, abraçou Harumi.
- Olá Pai.
Ouvindo o tom automático e “sem vida” da voz de Harumi, Ikusa apertou o abraço. Logo entraram para a casa, e Sora, o irmão mais novo de Harumi, que completaria em pouco tempo 7 anos, veio correndo abraçar a irmã. Harumi abaixou-se e abraçou Sora, sorrindo, não um sorriso aberto e alegre, mas um sorriso pequeno e comportado, mas com uma pitada de felicidade por ver Sora.
- Como está, meu pequeno?
- Mana, mana, quero te mostrar um monte de coisas que eu aprendi a fazer! E quero que você treine comigo, pra eu me tornar o shinobi mais forte de todo mundo! E vamos agora, mana, porque sempre que você vem, você fica pouco tempo!
Sora puxava Harumi pela mão, e ela ria baixinho, levantando-se, mas permanecendo no mesmo lugar. Ikusa adiantava-se, ao ver Harumi sem ação.
- Calma lá, pequeno ninja! Sua irmã veio morar com a gente, e vai ter todo o tempo do mundo pra brincar com você! Agora vai lá fora brincar com o Kyo...
- Okei, Pai! E mana, que bom que veio ficar com a gente!
Sora saia andando para o gramado, deixando os 3 na sala. Harumi andava na direção do quarto dela, logo se sentando na sua cama. Não demorou 2 segundos para Ikusa e Hana aparecerem na porta. Os dois entraram e fecharam-na.
- Kyo?
- Um cachorrinho que adotamos para Sora brincar. Seu irmão tem muita energia para gastar... E ninguém tira da cabeça dele ser um shinobi como a irmã. Então ele treina todo dia com o Kyo. Às vezes dá dó do pobre cão.
Harumi ria imaginando como seu irmão era parecido com ela, na infância. Aburames são reclusos, mas precisam gastar energia com alguma coisa quando são crianças.
Logo Ikusa pediu para Hana deixar os dois apenas no quarto, e sentou-se na frente de Harumi. Quando Hana saiu, Haru já começou a chorar, coisa que nunca tinha feito na frente de seu pai.
- O que houve, minha pequena?
E Harumi desatou a falar, sobre tudo que aconteceu. Contou tudo, desde sua história com Kaguya Dérik e Koori Ayaka, do seu namoro com Uchiha Adrian, do sumiço repentino do Uchiha, e da tentativa fracassada de sair escondida de Konoha a procura dele – que resultou no conflito interno dos clãs. Depois contou do período que passou refugiada na Vila da Areia, e da volta dela pra Konoha, logo da conversa com Adrian e, em seguida do traumático CS, e de como, depois de voltou, isso tudo deixou a menina maluca, completamente desnorteada.
Ikusa ouvia atentamente, e apenas lamentava por saber que toda aquela perseguição aburame era culpa de sua filha. Ao final do falatório de Harumi, que parecia bem melhor agora, depois de ter falado tudo que a atormentava, ele se levantou e disse, num tom firme.
- Você vai ficar aqui o tempo que precisar para se recompor, mas lembre-se: é sua obrigação contar a verdade para os Regentes. E isso é uma ordem, Harumi. Depois que você estiver melhor, você vai voltar a Konoha e contar a verdade para os Regentes e aos Uchihas.
Olhava severamente para Harumi e saia do quarto dela, fechando a porta.
A menina ficava olhando para a cadeira que, alguns segundos atrás, estava ocupada pelo seu pai. Não esperava outra reação dele. Mas estranhava o porquê da forma tão ríspida e severa que ele tinha tido com ela, até porque, seu pai não era shinobi e não vivia em Konoha. Mas não teve muito tempo para pensar, já que Hana invadia seu quarto com uma bandeja cheia de comida. Harumi fazia careta. Não estava com fome, mas sabia que a mãe iria fazê-la comer tudo que estava ali. Mas certamente isso era para o bem dela.
Recuperação
No inicio foi difícil para Harumi se acostumar a viver com a família. Ela tinha ido para Konoha com 7 anos de idade, juntamente com seu avô paterno – Aburame Hiraki, e logo entrou para a academia ninja. Como seu avô vivia em missões, boa parte do tempo passou sozinha na casa em que ele morava. E foi assim até hoje, já que, após sair em uma missão impossível, como ele mesmo havia dito, Harumi não soubera dele mais.
A casa deles haviam poucos objetos que remetiam ao mundo shinobi, mas mesmo assim, tudo que podia fazer Harumi se lembrar disso, foi escondido. Deu até um pouco de só de Sora, mas seu pai havia sido muito rígido, e proibido Sora de “brincar” de ser ninja, e de falar sobre esse assunto em casa.
Aos poucos, a menina ia se esquecendo dos traumas que os shinobis e as kunoichis passam. Não que tenha sumido, mas foi se tornando apenas uma lembrança vaga na cabeça da menina, depois de mais de1 mês ali. Harumi e Sora se tornaram inseparáveis. Ficavam brincando o dia todo, junto com Kyo. Era visível a mudança que aquele tempinho fez com a menina. Harumi havia recuperado a saúde mental, e corporal. Não estava mais “pele e osso” como quando chegou ao Vilarejo, e seus olhos agora trazia um brilho. Não era muito raro ver a menina rindo e rolando na grama com seu irmão Sora, apesar de que quando Ikusa chegava perto, os dois se sentavam eretos e sérios. Logo caindo na gargalhada quando Ikusa sumia da vista dos dois. Talvez Harumi estivesse voltando a ser quem era.
Revelações - o passado de Harumi
Certo dia, estavam todos reunidos na sala, menos Haru. Hana bordando uma toalha com o nome de Sora, Ikusa lendo o jornal local enquanto Sora estava sentado, apoiado na mesinha de centro, tentando fazer seus kikais levantarem uma pedrinha. Foi quando Harumi aparecia na sala, um pouco atordoada.
- Pai, você era um shinobi!?
Ikusa parava de ler e ficava olhando fixamente para Harumi, sem reação – apesar de muito surpreso. Hana acabara espetando o dedo, assustada com a pergunta de Harumi, e Sora olhava da sua irmã mais velha para seu pai, confuso.
Alguns segundos se passaram assim, todos em completo silencio, até que Ikusa fechava o jornal e dizia severamente.
- Sora, para o seu quarto.
Sem pestanear, Sora se levantava e andava silenciosamente para o quarto, e só quando Ikusa escutou a porta do quarto dele fechar, que ele suspirou fundo e se ajeitou.
- Harumi, sente-se. Como você descobriu isso?
A menina sentou-se de joelhos na frente do pai. Estava pálida, por medo, e também pela surpresa da descoberta. Olhava Ikusa e Hana com um olhar tão confuso como de Sora.
- Eu sei que não deveria ter mexido nas suas coisas, Pai. Mas eu... Estou com saudades de lutar... Eu precisava encontrar minha bolsa de armas. Sei que o senhor e a mamãe estão evitando o máximo que eu tenha contato novamente com o mundo ninja, mas eu preciso Pai. É a única coisa que sei fazer, e, já se fazem quase 2 meses que cheguei aqui, e não tenho treinado nada... Então fui procurar minhas coisas no quarto do senhor, e acabei achando isso...
Harumi estendia a mão. Ela estava segurando uma bandana de Konoha que não pertencia a ela. Seu pai curvou-se e pegou a bandana das mãos da menina, voltando a sentar-se ereto.
- Meu time era composto por mim, um inuzuka e um hyuuga. Éramos grandes amigos... Um time especializado em rastreamento, e éramos realmente bons. Nosso sensei era um aburame, então tivemos um treinamento muito rígido. Ele se chamava Aburame Aoki.
- Meu pai, Harumi... Seu avô. – Disse gentilmente, Hana.
Harumi piscava, tentando processar a ideia. Nunca soube realmente da família de sua mãe. Ela perguntou uma vez, mas seus pais não lhe falaram nada, então decidiu deixar para lá. Ikusa continuou, após a leve interrupção de Hana.
- Sim... Aoki era o pai da sua mãe, e foi assim que a conheci. Um dia, Aoki-sama me chamou para um treino com ele. Disse que iria me ensinar a aprimorar minha técnica de busca com os kikais. Mas que iria levar uma pessoa junto, para assim ensinar as duas pessoas ao mesmo tempo. Era sua mãe que ele levou no treino... Sua mãe era uma grande rastreadora, sabia?
- MAMÃE ERA KUNOICHI?
A menina quase levantara de tamanho susto que levou ao saber que sua mãe, também foi kunoichi. Hana balançou a cabeça positivamente, olhando a filha nos olhos. Harumi sentou-se com as pernas cruzadas, incrédula.
- Meu time era meu o Takeda-sensei, que era Nara, eu, uma akimichi e uma yamanaka. Foram minhas amigas desde o tempo da Academia Ninja. Elas moram aqui no Vilarejo, e você antigamente brincava com os filhos delas...
Harumi começava a se lembrar vagamente de algumas amigas de infância de sua mãe, mas era uma parte da infância que ela não gostaria muito de lembrar.
- Então, conheci sua mãe, começamos a namorar. Meus pais eram shinobis. Você sabia de seu avô, mas nem eu e nem ele lhe contamos que sua avó, Mayumi, também era. Mas ela se aposentou assim que eu nasci. Dizia que agora que tinha um filho, iria dedicar-se totalmente a ele. Então seu avô continuou servindo Konoha.
- Minha mãe foi totalmente ao contrário de sua vó Mayumi. Ela se chamava Nayla, e era sensei, assim como meu pai. Desde pequena fui criada para ser uma kunoichi extremamente perfeita. Sua avó e seu avô não toleravam erros. Eram realmente rígidos, não só com os alunos deles, mas comigo também. Então, me casei com seu pai, e fiquei grávida. E assim que soube que eu iria ser mãe, aposentei. Queria dedicar minha vida a você, Harumi. Fui apoiada por Mayumi, mas minha mãe e meu pai, rejeitaram a ideia. Foi quando brigamos e, por causa disso, não nos falamos mais.
- Mas, assim que você nasceu, minha mãe faleceu. Por isso você não tem nenhuma lembrança dela. Você foi maior alegria de Mayumi, e foi ela quem lhe deu seu nome – Harumi. Meu pai, apesar de velho, saia em algumas missões por Konoha. A maioria das vezes, ele viajava a procura de conhecimento sobre ervas e novas descobertas de insetos. Não sabemos ao certo o que houve com o sumiço dele, se ele foi em missão secreta ou se foi atrás de mais conhecimento. Mas essa era a forma dele esquecer um pouco a morte da sua avó.
Harumi ouvia tudo atentamente. E as ideias começavam a se encaixar na sua cabeça. Por isso ela nunca soubera de sua avó paterna e nem dos seus avôs maternos. Por isso ela nunca soube que sua mãe tinha sido uma kunoichi. Mas tinha muita coisa que ainda não encaixava.
- Mas Pai, porque você não continuou?
Ikusa mexeu-se desconfortavelmente, e pareceu profundamente triste.
- Houve uma guerra ninja em Konoha, há algum tempo atrás. Você era muito pequena, nem deve se lembrar... Morávamos em Konoha, e quando os rumores dessa guerra aumentaram, mudamos para cá, que por ser um lugar pequeno e sem muito contato com o mundo shinobi, era mais seguro para você e sua mãe. Eu continuei em Konoha e fui mandado para a “guerra”. Eu fui o único sobrevivente do meu time.
A menina abaixava a cabeça. Sabia o quão era triste perder um amigo. Ela nunca perdera um para a morte, mas sentia falta do Shiro, do Chomaru, da Ayaka... Do Vic-Sensei. E depois deles, ela havia só se apegado a Adrian, e ela também estava com saudades do namorado.
- Sinto muito, Pai.
- Então, com a morte deles, eu decidi parar, e dar total atenção a minha família. Você cresceu, linda, talentosa. Tinha facilidade com os kikais desde pequena, e seu avô dizia “Ela se tornará uma grande kunoichi”.
- Mas eu e seu pai não queríamos que você passasse por todo sofrimento emocional e físico que é exigido quando se é shinobi, e por isso não permitimos que você fosse. Talvez, a sua falta de estrutura emocional com todos esses acontecimentos que ocorreu, seu pai me contou, pode ser nossa culpa, por não termos te apoiado e encorajado você emocionalmente. E nem te preparado para isso.
- Mas mãe, e meus avós? Aoki e... Nayla?
- Morreram na guerra também, Harumi. Eles viram você apenas uma vez, você era recém-nascida...
Harumi suspirou fundo. Era muita informação para a cabeça dela. Hana se levantava, ia até o quarto dela, demorava uns minutos lá, e voltava. Trazia fotografias de Nayla, de Aoki, de Mayumi. Do time dela todo unido, do time de Ikusa. Harumi via enquanto sua cabeça ia acostumando com a ideia de que era de uma família shinobi, e que não era a toa que ela tinha essa “vocação”.
Ikusa se levantou e foi andar no gramado, deixando Hana e Harumi conversando sobre o passado que a menina tinha acabado de descobrir. Ela não sentia raiva e nem ódio dos pais por ter escondido por tanto tempo isso dela. Mas sim estava feliz, por saber que eles eram que nem ela.
[...]